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sábado, 30 de abril de 2016

A Mulher no Islam - Parte 15 - HIJAB (VÉU)

Por: Sherif Abdel Azim




    Finalmente, vamos esclarecer o que é considerado no Ocidente como o
maior símbolo de opressão e servidão da mulher, o véu, ou a cabeça coberta. É
verdade que não existe algo como o véu na tradição judaico-cristã? Façamos o
registro correto. De acordo com o Rabino Dr. Menachem M. Brayer (Professor
de Literatura Bíblica na Universidade de Yeshiva) no seu livro, "A Mulher
Judia na Literatura Rabínica", era um costume judeu a mulher ir aos lugares
públicos com a cabeça coberta, e, em alguns casos, com todo o rosto coberto,
deixando apenas um olho de fora (76). Ele cita alguns famosos ditos rabínicos
antigos: "Não é bom para as filhas de Israel andarem na rua com suas cabeças
descobertas” e "Amaldiçoado seja o homem que permite que o cabelo de sua
esposa seja visto... uma mulher que expõe os seus cabelos como adorno traz a
pobreza". A lei rabínica proibe a recitação de bênçãos e orações na presença
de mulheres casadas com a cabeça descoberta, uma vez que o cabelo é
considerado "nudez"(77). O Dr. Brayer também menciona que "Durante o período
Tannaitic a mulher judia com a sua cabeça descoberta era considerada uma
afronta à sua modéstia. Quando a sua cabeça estava descoberta ela podia ser
multada em 400 zuzim por esta ofensa". O Dr. Brayer também explica que o
véu da mulher judia nem sempre era considerado como um sinal de modéstia.
Algumas vezes, o véu simbolizava mais um estado de distinção e de luxúria
do que modéstia. O véu personificava a dignidade e superioridade das mulheres
nobres. Também podia representar a inacessibilidade da mulher como posse
santificada de seu marido (78).
    O véu significava o auto-respeito de uma mulher e um status social. As
mulheres das classes mais baixas vestiam o véu para dar a impressão de uma
posição mais elevada. O fato de o véu significar sinal de nobreza foi a razão de
não se permitir às prostitutas cobrirem seus cabelos, na antiga sociedade judaica.
Contudo, as prostitutas muitas vezes usavam um lenço especial, a fim de
parecerem respeitáveis (79).
As mulheres judias na Europa continuaram a usar o véu até o século XIX,
 quando as suas vidas se tornaram interrelacionadas com
o meio cultural. As pressões externas da vida européia no século XIX, obrigaram
as mulheres a saírem com as cabeças descobertas. Algumas judias achavam
mais conveniente substituir o tradicional véu por peruca, como uma outra forma
de cobrir a cabeça. Atualmente, muitas mulheres judias piedosas não cobrem
as suas cabeças, exceto quando se encontram nas sinagogas (80). Algumas delas,
tais como as da citada Hasidic, ainda usam peruca (81).
  
    O que dizer a respeito da tradição cristã? É sabido que as freiras católicas
usaram as suas cabeças cobertas por centenas de anos, mas isto não é tudo.
São Paulo, no Novo Testamento, fez algumas declarações muito interessantes
a respeito do véu: "Agora eu quero que vocês percebam que a cabeça de cada
homem é o Cristo e a cabeça da mulher é o homem e a cabeça do Cristo é
Deus. Cada homem que reza ou vaticina com a cabeça coberta desonra a sua
cabeça. Cada mulher que ora ou vaticina com a cabeça descoberta desonra sua
cabeça - é como se a sua cabeça estivesse raspada. Se a mulher não cobrir a
sua cabeça, ela deve ter os seus cabelos cortados: e para não cair na desgraça
de ter os cabelos cortados ou raspados ela deve cobri-los. Um homem não
deve cobrir sua cabeça uma vez que ele é a imagem e glória de Deus; mas a
mulher é oriunda do homem; o homem não foi criado da mulher, mas a mulher
foi criada do homem. Por esta razão, e por causa dos anjos, a mulher deve ter
um símbolo da autoridade sobre a sua cabeça" (I Coríntios 11:3/10).

    As razões apresentadas por São Paulo, para que a mulher se cubra, é que
o véu significa um sinal de autoridade do homem, o qual é a imagem e glória
de Deus sobre a mulher, que foi criada dele e para ele. São Tertuliano, no seu
famoso tratado "Sobre o véu das virgens", escreveu "jovens mulheres, vocês
cobrem-se quando nas ruas, assim, vocês devem cobrir-se quando na igreja,
vocês cobrem-se quando estão entre pessoas estranhas, portanto vocês devem
cobrir-se quando estiverem entre os vossos irmãos..." Entre as leis canônicas
da Igreja Católica de hoje, há uma lei que exige que as mulheres cubram as
suas cabeças quando estiverem na igreja (82). Algumas denominações cristãs,
tais como os Amish e os Menonitas, por exemplo, mantêm as suas mulheres
cobertas até hoje. A razão para o véu, conforme explicado pelos líderes da Igreja, é que "a cabeça coberta é um símbolo da sujeição feminina ao homem
e a Deus", o que, no final, significa a mesma lógica apresentada por São Paulo
no Novo Testamento(83).
    De todas as evidências acima, é óbvio que o Islam não inventou a cabeça
coberta. Contudo, o Islam endossa a tese. O Alcorão obriga homens e mulheres
a recatarem os seus olhares e a guardarem as suas modéstias e, com relação às
mulheres, determina que as suas cabeças sejam cobertas, e que esta cobertura
se estenda ao pescoço e colo:

"Dize às crentes que recatem os seus olhares, conservem os seus
pudores e não mostrem os seus atrativos, além dos que (normalmente)
aparecem; que cubram o colo..." (24:31)

O Alcorão é bem claro no que se refere ao véu como essencial para a
modéstia. Mas porque é a modéstia importante? O Alcorão é ainda mais claro:

"Ó Profeta, dize às tuas esposas, tuas filhas e às mulheres dos crentes
que (quando saírem) se cubram com as suas mantas; isso é mais
conveniente, para que se distingam das demais e não sejam molestadas"
(33:59).

    Esta é a questão principal, a modéstia é prescrita para proteger as mulheres
de serem molestadas, isto é, a modéstia é proteção.
Assim, a única proposta do véu no Islam é a proteção. O véu islâmico,
diferentemente do véu na tradição cristã, não é sinal da autoridade do homem
sobre a mulher, nem é um sinal de sua sujeição ao homem. O véu islâmico, diferentemente da tradição judaica, não é um sinal de luxúria ou de distinção
de algumas mulheres casadas nobres. O véu islâmico é simplesmente um sinal
de modéstia, com a proposta de proteger as mulheres, todas as mulheres. A
filosofia islâmica é a de que é sempre melhor prevenir do que remediar.
    Realmente, o Alcorão é tão preocupado com a proteção dos corpos das mulheres
e com a sua reputação, que um homem que se atrever a acusar falsamente uma
mulher de não ser casta, será severamente punido:

 "E àqueles que difamarem as mulheres castas, sem apresentarem
quatro testemunhas, infligi-lhes oitenta chicotadas e nunca mais aceiteis
os seus testemunhos, porque são depravados." (24:4)

    Para os casos de estupro: Se um homem encontra uma virgem, que
está na condição de casar e a estupra e eles são descobertos, ele deve pagar ao
pais da moça 50 shekels de prata. Ele deve casar-se com a moça por que ele a
violou. Ele não poderá nunca divorciar-se dela enquanto viver (Deuteronômio
22:38/30). Podemos simplesmente perguntar: Quem é punido realmente? O
homem que somente pagou uma multa pelo estupro ou a moça que se viu
forçada a casar-se com o homem que a violentou e a ficar com ele até que ele
morra? Outra questão que se apresenta é: quem protege mais as mulheres, o
Alcorão com sua postura rigorosa, ou a Bíblia com sua posição mais branda?
Algumas pessoas, sobretudo no Ocidente, têm uma tendência a
ridicularizar a argumentação da modéstia para proteção. Elas dizem que a
melhor proteção é divulgar a educação, o comportamento civilizado e o autocontrole.
     E nós dizemos: ótimo, mas insuficiente. Se o processo de civilização
fosse suficiente, então porque é que as mulheres nos EUA não se atrevem a
andar sozinhas em ruas escuras, ou mesmo a cruzar um parque vazio? Se a
educação fosse a solução, então porque é que uma respeitada universidade
como a de Queen tem um 'serviço de acompanhamento a casa' principalmente
para as estudantes no campus? Se o auto-controle fosse a resposta, então porque
é que tantos casos de assédio sexual acontecem em locais de trabalho, como os relatados nos jornais a cada dia? Em uma amostra sobre os molestadores,
nos últimos anos, encontramos: marinheiros, diretores, professores
universitários, senadores, juízes da Suprema Corte e até o Presidente dos Estdos
Unidos. Eu não posso acreditar nos meus olhos, quando leio sobre as seguintes
estatísticas, elaboradas pelo escritório das mulheres decanas da Universidade
de Queens:

* No Canadá, uma mulher é atacada sexualmente a cada seis minutos;
* Uma, em cada três mulheres no Canada, será sexualmente assaltada
nalguma época das suas vidas;
* 1 em 4 mulheres corre o risco de ser estuprada alguma vez;
* 1 em 8 mulheres será atacada sexualmente enquanto estiver no colégio
ou universidade; e
* Um estudo concluiu que 60% dos estudantes universitários canadenses
cometeriam algum tipo de violência sexual se eles estivessem seguros de não
serem descobertos.

    Alguma coisa está fundamentalmente errada na sociedade em que
vivemos. Uma mudança radical no modo de vida e na cultura da sociedade
torna-se absolutamente necessária. Uma cultura de modéstia é necessária,
modéstia no vestir, no falar e nos modos, tanto dos homens como das mulheres.
    Caso contrário, as terríveis estatísticas continuarão a crescer e, infelizmente,
as mulheres, sozinhas, pagarão o preço. Realmente, nós todos sofremos, mas
como Khalil Gibran disse "... para a pessoa que recebe os golpes não é o mesmo
que para a pessoa que os conta"(84). Logo, uma sociedade como a francesa, que
expulsa uma jovem da sua escola por causa das suas roupas, acaba, no final,
por, simplesmente, se ferir a si mesma.
    Uma das maiores ironias do nosso mundo atual é que, o mesmo véu que
é reverenciado como sinal de "santidade", quando usado pelas freiras católicas
como forma, de exibir a autoridade do homem, é mostrado como forma de
"opressão" quando vestido com o objetivo de proteger a mulher muçulmana.




76. Menachem M. Brayer, The Jewish Woman in Rabbinic Literature: A Psychosocial Perspective
(Hoboken, N.J: Ktav Publishing House, 1986) pág. 239.
77. Ibid., págs. 316-317. Ver também Swidler, op. cit., págs. 121-123.
78. Ibid., pág. 139.
79. Susan W. Schneider, Jewish and Female (Nova York: Simon & Schuster, 1984) pág. 237.
80. Ibid., págs. 238-239.
81. Alexandra Wright, "Judaism", em Holm e Bowker, ed., op. cit., págs. 128-129.
82. Clara M. Henning, "Cannon Law and the Battle of the Sexes" em Rosemary R. Ruether,
ed., Religion and Sexism: Images of Woman in the Jewish and Christian Traditions (Nova
York: Simon e Schuster, 1974) pág. 272.
83. Donald B. Kraybill, The riddle of the Amish Culture (Baltimore: Johns Hopkins University
Press, 1989), pág. 56.
84. Khalil Gibran, Thoughts and Meditations (Nova York: Bantam Books, 1960) pág. 28.

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