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quarta-feira, 15 de junho de 2016

COMO A TRINDADE DESENVOLVEU-SE NA DOUTRINA CRISTÃ


    A perseguição aos cristãos e a supressão da Igreja primitiva sob os imperadores romanos, que começou no primeiro século, terminou com a chegada ao poder de Constantino, o Grande, na Ponte Mílvio, em 312 dC. Assim, através da conversão ao cristianismo, favores especiais eram oferecidos ao povo na forma de ganhos políticos, militares e sociais. Como resultado, milhares de não-cristãos se uniram à Igreja e permitiram que Constantino exercesse grande poder sobre os assuntos da Igreja.
    Foi durante o reinado de Constantino que a idéia de Jesus Cristo como co-igual a Deus, o Pai, começou a ganhar impulso. Ainda assim, a Trindade não foi uma doutrina estabelecida nessa época. A idéia de um deus trino despertou grande controvérsia no seio da Igreja, uma vez que ainda muitos dos clérigos e leigos não aceitavam a posição de Cristo como Deus.14
    Esta discordância alcançou o nível de confronto entre o Bispo Alexandre da Alexandria, no Egito, e seu presbítero Ário. O Bispo Alexandre ensinava que Jesus era igual a Deus, mas Ário não. Então, em um sínodo realizado em Alexandria em 321 d.C., Ário foi deposto e excomungado.15
    Ário, apesar de institucionalmente desfavorável, ainda tinha muito apoio fora do Egito. Muitos dos bispos importantes, como o versado historiador palestino Eusébio da Cesárea, e seu xará poderoso, Eusébio, bispo de Nicomédia, teologicamente concordavam com Ário: Jesus Cristo não é Deus.16
    A sustentada polêmica perturbou Constantino e, a fim de legitimar sua posição, ele convidou todos os bispos da Igreja Cristã de Nicéia (Ásia Menor) em maio de 325 dC. Assim, o Concílio de Nicéia começou a resolver as controvérsias referentes à relação entre Deus e seu Filho. Constantino, que estava liderando o processo, exerceu o seu poder político persuadindo os bispos a aceitarem a sua posição teológica. O credo assinado por 218 bispos era claramente anti-Ário. Em outras palavras, o Credo de Nicéia sancionou o Filho como co-igual a Deus. Duzentos e dezoito dos bispos assinaram este credo, embora tenha sido realmente o trabalho de uma minoria.17

    A Enciclopédia Britânica resume os trabalhos do Conselho de Nicéia da seguinte forma:
O Conselho de Nicéia reuniu-se em 20 de maio de 325. O próprio Constantino presidindo e ativamente orientando as discussões, e ele pessoalmente propôs (sem dúvida incitado por Ossius) a fórmula crucial expressando a relação de Cristo com Deus no credo emanado pelo conselho, "de uma única substância com o Pai". Intimidados pelo imperador, os bispos, com duas únicas exceções, assinaram o credo, muitos deles contra a sua inclinação pessoal.
Constantino considerou a decisão de Nicéia como divinamente inspirada. Enquanto ele viveu ninguém se atreveu a desafiar abertamente o Credo, mas a esperada concordância não prosseguiu.18


O CREDO DE NICEIA


    Cremos em um Deus Pai Todo-Poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, de uma substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas, as coisas no céu e na terra. Que por nós homens e para nossa salvação desceu dos céus e se fez carne, e se fez homem, sofreu, e ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus, e virá para julgar os vivos e mortos.

E no Espírito Santo.

    E aqueles que dizem "Existia, quando ele não existia”, e “Antes dele ter sido gerado ele não exista” e que, "Ele veio a existir a partir do que não existia”, ou aqueles que alegam que o filho de Deus é "de outra substância ou essência",
Ou “criado”,
Ou "mutável",
Ou "alterável".
A estes a Igreja Católica e Apostólica anatematiza.


O Credo Niceno


    Bettenson explica o Credo de Nicéia como segue:
“Encontrado no trabalho de Epifânio, Ancoratus, 374 dC, e extraído por estudiosos, quase palavra por palavra, a partir das Leituras Catequéticas de S. Cirilo de Jerusalém; lido e aprovado na Calcedônia, 451 dC, como o credo dos ”318 padres que se reuniram em Nicéia e dos 150 que se reuniram posteriormente (por exemplo, em Constantinopla, em 381)”. Por esta razão, muitas vezes chamado de Constantinopolitano ou Niceno-Constantinopolitano, e tido por muitos como uma revisão do credo de Jerusalém realizada por Cirilo.
    ‘Cremos em um Deus Pai Todo-soberano, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis;
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos Céus. E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria. E se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai. De novo há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim.
    Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas. Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e vida do mundo que há de vir. ’ ”19
    Embora o Concílio dos Bispos tenha aceitado o Credo Niceno, não havia menção à Trindade.
    A controvérsia sobre a natureza de Jesus continuou por várias décadas. No ano 381 d.C. um segundo Concílio Ecumênico se reuniu em Constantinopla20. Este conselho adotou o Credo Niceno afirmando que Jesus e Deus eram co-iguais, co-eternos, e da divindade do Espírito Santo. A doutrina da Trindade veio a ser formalmente estabelecida como a pedra angular da fé cristã para os próximos quinze séculos.

Nota: Assim como a "Oração do Pai Nosso" (Mateus 6:9-13), todos os católicos romanos são obrigados a memorizar o "Credo Niceno", que é incluído nas orações.

    O Imperador Teodósio fez da crença no cristianismo uma questão de decreto imperial:
"Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos,... Cremos na divindade única do Pai, do Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade. Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos os que sigam esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade celestial." 21
    Posteriormente, também a doutrina da veneração de Maria como a "mãe de Deus" e "genitora de Deus", foi formulada no Concílio de Constantinopla (553 dC), e o título de "Virgem Maria" foi adicionado. "Nas orações e hinos da Igreja Ortodoxa o nome da mãe de Deus é invocado na mesma proporção que o nome de Cristo e da Santíssima Trindade"... "Na doutrina católica, Maria, a mãe de Deus, foi identificada como a figura da Sabedoria divina. O processo de deificação da mãe de Deus deu um passo adiante aqui, em que Maria é tratada como uma hipóstase divina (a substância). A figura da Sabedoria divina.” 22


Footnotes:
14 Do texto original citado pelo autor: Victor Paul Wierwille: Jesus Christ is not God, American Christian Press. The Way International, New Knoxville, Ohio 45871, (1975-1981), p. 22-23.
15 Hase, A History of the Christian Church, p. 111. ( Ibid, p. 23).
16 Henry Chadwick, The Early Church (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1968)
17 Henry Bettenson, ed., Documents of the Christian Church, 2nd ed. (London: Oxford University Press, 1963)
18 Encyclopaedia Britannica, 1968, s.v. "Council of Nicea."
19 Victor Paul Wierwille: "Jesus Christ is Not God", American Christian Press, New Knoxville, Ohio, pp. 26-27.
20 B.K. Kuiper, The Church in History (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., p. 128 (See – Ibid, p.25).
21 Bamber Gascoigne: "The Christians", Granda Publishing Limited, 1976, Frogmore, St Albans, Herts AI2 2NF and 3 Upper Jemes Street, London Wir 4BP, p. 9.
22 Encyclopaedia Britannica, Macropaedia, Vol. 4, Christianity, p. 483.

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